Arquivo da categoria: Cartas

Manifiesto Munduruku

Versión en Español

 

El pueblo Munduruku no habla por hablar. Las palabras predicadas por nuestros chamanes, ancianos y ancianas, caciques, cacicas, guerreros, guerreras y líderes de hecho suceden. Nuestros cantos, hace muchos siglos, cuentan que somos un pueblo guerrero y que no hemos perdido ninguna batalla. Estas son palabras verdaderas, por esto continuamos cantando y haciendo nuestros rituales. Por otro lado, la palabra de los pariwati (blancos) es llena de dapxi (mentira). Es por ello que lo escriben todo, para intentar fortalecer la palabra y esconder las cosas malas que hacen detrás de los papeles que firman.

Para enseñar a los pariwati el significado de “ogukirik oceweju” (compromiso celebrado con el pueblo Munduruku), hicimos la audiencia y recibimos al Ministerio Publico con la ayuda de cada comunidad. Hicimos ver que aquí en la Mundurukania no es el dinero que manda. Tenemos tierra para sembrar, tenemos pescado, caza y el río para navegar. Si no tenemos combustible, remamos y llegaremos siempre donde queremos.

Ya explicamos antes, pero nos parece que los pariwati todavía no lo entendieron. Nuestros chamanes están escuchando los lamentos de los espíritus después de la destrucción de Karobixexe y Dekuka’a. Por esto somos obligados a visitarlos y a calmarlos.

Entonces, nosotros estamos alertando una vez más de que nos vamos hasta el río Teles Pires para cumplir nuestra palabra verdadera y visitaremos las urnas que descubrimos que las están rescatando, de acuerdo con lo que dicen nuestros chamanes y sabios. No es la CHTP que hace el “salvamento”, como ella dice en su oficio. Ella tocó en nuestro lugar sagrado y retiró las urnas de ahí en silencio, a escondidas, mintiendo una vez más. Pero nosotros descubrimos y vamos cobrar de la empresa este deber de llevarnos hasta allá, porque es ella la culpada por la tristeza de nuestros espíritus ancestrales.

El Ministerio Público está llevando nuestro aviso en la carta de audiencia. Pero ustedes ya se dieron cuenta que no somos “pueblos de papel”. Si necesario volveremos a la zona de obras de la Central Hidroeléctrica de São Manoel para cobrar de las empresas y del Gobierno todo lo que ellos han robado de nosotros.

 

Carta das mulheres Munduruku em resposta à Funai e às empresas hidrelétricas do Teles Pires

 

Nós, mulheres, pajés, caciques, cacicas, guerreiros, guerreiras, cantores, cantoras, professores, lideranças Munduruku reunidos na aldeia Missão Cururu de 28 a 30 de setembro, estamos aqui para denunciar que mais uma vez as empresas e a FUNAI mentiram e não cumpriram o acordo que fizeram com o povo Munduruku na ocupação da UHE São Manoel.

Muitas mulheres e muitos antigos da luta, mesmo com muita dificuldade, vieram de suas aldeias para dialogar com as empresas e com a FUNAI e mostrar o sofrimento causado pelas barragens, que estão destruindo e deixando a gente com o rio sujo,matando os peixes .

Antes de construir essas hidrelétricas, eles nunca consultaram a gente. Nós fizemos o Protocolo de Consulta, mas o governo nunca cumpriu. Nem a FUNAI, que fala q é defensora dos direitos indígenas que vai cumprir o que está no Protocolo, mas nunca cumpriu. Eles não reconhecem o povo. Não só os indígenas, mas também os ribeirinhos. No mês de setembro, o Presidente Franklinberg Freitas descumpriu o Protocolo munduruku e indicou Olinaldo de Oliveira, conhecido como Fuzica, para assumir um cargo importante na Coordenação Regional do Tapajós. Nós não aceitamos essas indicações políticas e nem que ele passe por cima da nossa decisão, que era a readmissão do Ivanildo Saw Munduruku. Por isso ocupamos a FUNAI e Olinaldo pediu para ser exonerado.

Para ter diálogo com o povo Munduruku, eles têm que vir aqui nas nossas aldeias, comer com a gente, beber água do rio, ver de onde a gente tira nosso alimento. Se eles fizeram a barragem, eles também vão ter que beber da água do rio, com vazamento de óleo, peixe contaminado, animais morrendo. Vão ter que comer com a gente e sofrer o que a gente tá sofrendo.

Assinaram nossas reivindicações e prometeram que viriam na aldeia pedir desculpas pelas destruições dos lugares sagrados, mas não vieram e só enviaram suas palavras cheias de jurupari (espíritos do mal). Disseram que invadimos a UHE São Manoel com armas, mas não estamos pedindo o que é deles, estamos falando do que é nosso.  Quando ocupamos o canteiro não demorou um dia para eles aparecerem lá. Eles falam que aquilo é deles, mas aqui eles não vieram.

Eles não tiveram coragem de vir olhar na nossa cara dentro da nossa casa. Quando fazemos ocupação eles têm coragem de olhar pra cara da gente, porque estão armados. Nós nunca usamos arma para lutar contra eles, nós usamos nossa cultura, nossa fala. Os pariwat que usam armas para intimidar. Com suas armas assassinaram Adenilson Kirixi. Nós sempre usamos arco e flecha que é da nossa cultura e vamos continuar a usar.

Se a gente não falar nada, vão continuar igual aos cachorros. A gente fala, fala e eles nunca ouvem.

Mesmo sem as empresas, sem apoio de combustível e alimentação, nós fizemos a audiência e mostramos que não dependemos dos pariwat. Temos território, temos nosso peixe e mostramos que a gente está aqui, trabalhando e construindo nosso plano de vida. Mas o governo e as empresas só estão atrapalhando. Essa época é o momento de plantação das nossas roças, em que estamos conversando com as plantas para elas crescerem e o Governo está interferindo nisso tudo. Hoje é dificil as mulheres que estão no movimento ficar nas suas casas, cuidar dos filhos, das roças.

Foi o choro das nossas crianças que fez as mulheres chegarem até o canteiro de São Manoel junto com os homens. Somos mãe, a mãe da nossa terra, nós cuidamos dela. Somos a mãe peixe. Antigamente todas viramos peixe, todas as mulheres foram embora para o rio, por isso sabemos o que está acontecendo com nosso Idixidi sagrado.

Eles não cumpriram o acordo, mas isso não quer dizer que nós fomos derrotados.  Quanto mais o governo e as empresas negam nossos direitos, mais a gente vai reagir. O Governo e as empresas estão se declarando e nós vamos reagir.

Nas palavras de morte das empresas, eles não falam da destruição dos nossos locais sagrados. Dizem que não têm que pedir desculpas. Escondem que acabaram com Karobixexe e Dekuka’a. Os espiritos nao têm onde ficar, estão rodando, procurando seu lugar. Agora estamos sentindo  a cobrança dos espíritos. Tem gente adoecendo. Está tendo muito acidente, crianças afogadas, picada de cobra. Por isso que a gente foi pra ocupação.  Decidimos que temos que fazer a segunda visita às urnas no dia 7 de outubro 2017, isso foi o compromisso que fizemos durante a primeira visita (cf. pauta anexa). A empresa vai ter que pagar todos as despesas da viagem. Precisamos fazer esses rituais lá. Até as empresas virem até nós e pedirem desculpa, os espíritos não vao sossegar. Também continuamos exigindo que as empresas venham até o território Munduruku e façam audiência para pedir desculpas por terem destruído nossos locais sagrados e parem de negar essa violência que fizeram com a gente.

Esperamos uma resposta urgente da empresa e da FUNAI. E nós mulheres junto com os pajés, caciques, cantores, lideranças estamos prontos para voltar para a ocupação.

 

Sawé!

Carta dos Ka’apor em apoio aos Munduruku

Nossos braços e nossas mãos aos parentes, guerreiros e guerreiras do Movimento Ipereg Ayu
Parentes Munduruku. Não pudemos esta ai, mas estamos com vocês aqui. Vocês mostraram esses dias que só com mobilização e organização a gente vence. Que os direitos nossos a gente não vende e nem negocia, a gente conquista em movimento e com luta com nossos parentes. A gente esta acompanhando os esforços, sacrifícios e luta de vocês para chegar até essas barragens que destroem os lugares sagrados em nome do dinheiro, do lucro dos ricos para gerar energia para os ricos. Só vocês conhecem o que os espíritos dos rios e da floresta tem a dizer pra vocês. Assim nós aqui. Só nós sabemos o que os espíritos da floresta, dos rios, da terra tem pra dizer pra nós. Os Pariwat, os Karai nunca vão saber, entender o sentido de nossa luta, de nossa vida. Eles podem atacar e querer derrubar a nossa organização e luta, mas não vão conseguir. Por isso parente, a gente unidos, tem que continuar se reunindo, se organizando e lutando do nosso jeito pelos nossos projetos de vida. Nosso futuro não está na cidade, nem venda de madeira e estacas, nem pastos, nem roças grandes, nem agronegócio, nem garimpo, nem barragem, nem projetos do governo. Nossa floresta, nossos rios, nossa terra são sagrados para nós. O mais importante agora é nossos Planos de Vida que vão guiar nossos passos para o bem viver nos nossos territórios.
Piranta ha johu Katu!
Conselho de Gestão Ka’apor
Guerreiros da Floresta Ka’apor

carta do cgk ao movimento mdkWhatsApp Image 2017-07-21 at 05.34.41

Por que nós munduruku estamos aqui?

mdk

Por que nós munduruku estamos aqui?

Nos dias 08 a 10 de maio de 2017 nós mulheres, pajés, caciques e lideranças estivemos junto com nossas crianças, reunidos na aldeia Santa Cruz realizando nosso II encontro de mulheres Aya Cayu waydip pe. Nesse encontro discutimos muitos problemas. A maioria desses problemas pioraram com a construção da Hidrelétrica do Teles Pires e de São Manuel.
Nossos locais sagrados Parabixexe e Dekuka’a foram violados e destruídos e nosso protocolo de Consulta foi desrespeitado. Depois de ouvirmos as mulheres foi decidido que estaríamos aqui por dois motivos.
O Primeiro é devolver as urnas roubadas pela hidrelétrica para a terra e que nenhum pariwat tenha acesso a ela. Essa devolução das urnas tem de ser acompanhada pelos pajés e com um pedido de desculpas da hidrelétrica por ter desrespeitado nossos locais sagrados.
Segundo que a hidrelétrica respeite nossos direitos e crie um Fundo com recursos para serem aplicados por nós munduruku:

  • em nossas escolas e na nossa educação,
  • nas nossas roças,
  • na proteção e vigilância das nossas terras,
  • no apoio aos nossos outros parentes e sem interferência das hidrelétricas,
  • na proteção dos nossos locais sagrados
  • na preservação do nosso conhecimento e da nossa história

Sawe!

Por que nós munduruku estamos aqui

Em carta à FUNAI, Mundurukus afirmam seu repúdio

No dia 11 de junho de 2017, o povo Munduruku reunido na aldeia Sawre Muybu, no médio Tapajós, escreveram uma  carta à Fundação Nacional do Índio – FUNAI manifestando seu repúdio ao retorno do servidor Raulien Queiroz de Oliveira à Coordenação Regional do Tapajós.

Os indígenas, entre outras denúncias, afirmam que Raulien nos seus dois mandatos como prefeito do município de Jacareacanga, território onde se concentra a maior parte das aldeias da etnia Munduruku, repetiu várias irregularidades a este povo, como a demissão arbitrária de 70 professores indígenas, em 2014. O servidor também foi presidente do Consórcio Tapajós, interessado na construção de hidrelétricas que alagariam Terras Indígenas e trariam impactos socioambientais irreversíveis às comunidades indígenas e ribeirinhas da região.

Leia a Carta na integra!

À PRESIDÊNCIA DA FUNAI
c.c: Ministério Público Federal

Nós, povo Munduruku, em reunião na aldeia Sawre Muybu, no dia 11 de junho de 2017, manifestamos nosso total repúdio ao retorno do servidor Raulien Queiroz de Oliveira à Coordenação Regional do Tapajós.
O servidor sempre maltratou os indígenas e durante os oito anos de mandato (2009-2016) como prefeito de Jacareacanga, sempre discriminou os Munduruku e ainda foi presidente do Consórcio Tapajós, interessado na construção de hidrelétricas que alagariam Terras Indígenas e trariam impactos socioambientais irreversíveis às comunidades indígenas e ribeirinhas da região.
Durante sua gestão, adotou diversas medidas políticas e administrativas anti-indígenas, como a exoneração arbitrária de 70 professores indígenas, em março de 2014, decisão revertida na Justiça, por meio de ação do Ministério Público Federal. Usou ainda violência física e moral contra o Movimento Munduruku Ipereg Ayu, chegando ao absurdo de coordenar um ato em que funcionários e servidores de sua gestão lançaram rojões contra os indígenas para reprimir suas manifestações em defesa de seus direitos.
Houve também interferência direta na organização social do povo Munduruku, quando inseriu na Associação Pusuru indígenas Munduruku ligados à sua gestão, favoráveis aos interesses da Prefeitura e contrários ao movimento de resistência.
É inaceitável que alguém com essa postura continue a trabalhar com o povo o munduruku ou com qualquer povo indígena. Sua atuação, seja como servidor da FUNAI, seja como prefeito, é incompatível com a missão do órgão indigenista de proteger os direitos dos povos indígenas.
Não aceitamos a presença do servidor supracitado na CR Tapajós, exigimos sua imediata exoneração pela presidência da FUNAI e a reestruturação da CR para que não haja prejuízo na realização das atividades fim da entidade. Caso não sejamos atendidos, resolveremos a situação de nossas próprias formas, com o devido acompanhamento do MPF.

DocumentocontraoRaulienQueiroz

parir                                                      mdk

A carta do Repúdio do Povo Munduruku contra PEC-215.

Mundurukania, 30 de outubro de 2015

Nós povo Munduruku,  repudiamos sobre a violência da discriminalidade da PEC 215. viemos a informar e dizer que não  aceitarmos  a modificações da nossa Lei que nos garantem na constituição de 1988,  a preservação e a nossa sobrevivência nativa, não negociamos nosso direito,nossa mãe terra  Ela é pra garantir as futuras gerações do nosso povo. A floresta é de onde a gente sobrevive. Ela cuida, mantém e dá alimento pra nós. Ela sempre dá seu fruto para novos gerações que são nossos pequenos  filhos.

Continuar lendo A carta do Repúdio do Povo Munduruku contra PEC-215.

XI Assembléia do Povo Munduruku do Médio Tapajós

Foto Alessandra Korap

O território Munduruku da árvore mais alta a raiz mais profunda está ameaçada e nós o povo que recebeu do Karosakaybu esta terra, queremos denunciar as ameaças que estamos sofrendo.

Em 2013 várias urnas deixadas por nossos antigos foram roubadas. A cachoeira de Sete Quedas “PARI BIXEXE” (lugar onde os mortos vão depois da morte) local sagrado do nosso povo foi destruído.

Queremos que os pariwat (não indígenas) saibam que nossos locais sagrados são tão importantes quanto suas cidades santas ou seus templos que alcançam os céus.

Nossos locais sagrados não representam o triunfo da riqueza. Nossos lugares sagrados nos apontam o caminho do Bem-Viver.

Por isso, nós exigimos que as urnas roubadas sejam devolvidas e que o governo brasileiro e a empresa que a roubou peçam desculpas à nós, Povo Munduruku, e ao povo brasileiro, da qual fazemos parte.

Esses locais sagrados deixados pelos nossos ancestrais é a verdadeira prova de que existimos, são evidências e vestígios reais de nossa presença. Eles estão espalhados ao longo do leito do rio Tapajós, e cada comunidade Munduruku dessa bacia reconhece pontos sagrados em seus territórios.

Quando falamos ao governo brasileiro da importância do sagrado para nós, de que estes lugares e símbolos não se permite tocar ou remover, as autoridades não entendem e parece que nunca a compreenderão.

Todas as ameaças estão acontecendo para destruir o que nos é sagrado. E todos nós somos sabedores que é a Construção de Usinas Hidrelétricas na bacia do Tapajós é a entrada de vários outros empreendimentos dos setores econômicos do interesse do governo como da Mineração, Hidrovias, construção de portos de navio para transportar grão de soja e construção de Ferrovias no territorio Munduruku.

Para não acontecer o desastre ecológico que não somente causará catástrofe com o povo Munduruku mas também comprometerá a vida dos pariwat que dependem das essências de elementos fundamentais que são indispensáveis para todas as formas de vidas biológicas.

Exigimos ao governo brasileiro que pare com esse projeto de destruição e que os protejam como a Constituição Federal diz. Nós já estamos protegendo desde o princípio, mas da parte do governo brasileiro nós não vemos a proteção.

Pedimos também aos apoiadores que levem a nossa voz para o mundo para pressionar a ONU, OEA e Países de primeiro mundo toda a sociedade organizada do mundo inteiro sobre a destruição do meio ambiente. Porque é justamente a população Indígena, a qual se preocupa em proteger a natureza, que é tão útil para todos no mundo, e por defender o seu territorio, são ameaçados, assassinados, criminalizados. Nós sofremos toda sorte de discriminação por vivermos em harmonia com a natureza.

Estiveram presentes em nossa assembleia os grupos sociais que partilham do nosso modo de vida no Tapajós e em outros rios também ameaçados, os Kaxuyana do rio Trombetas, os ribeirinhos do Arapiúns em Santarém, os beiradeiros de Montanha-Mangabal, os apoiadores do CITA, de Aveiro. Nós estamos juntos na luta pelo futuro de todos.

E para manter essa harmonia com toda classe social é preciso que os nossos territórios sejam demarcados e assim possamos viver da nossa maneira, de acordo com a nossa cultura deixada pelos nossos antepassados. Antes da chegada dos colonizadores o territorio já era nosso. Se esta resistência está acontecendo é por que estamos lutando pelo que é nosso. Não estamos invadindo para depois requerer a terra. Apenas, não queremos perder o que nos resta.

O territorio demarcado é garantir a Educação, Saúde, Segurança nacional, proteção da vida genética, e será orgulho para o mundo por que esta luta tem o verdadeiro sentido em prol da vida humana. Todos querem viver e não perder suas vidas.

Queremos que seja tomado as devidas providencias junto ao Procuradoria da República e outras instancias Federais para agilizar o processo de reconhecimento de nossos direitos constitucionais de acordo com o Art. 231 e 232 da Constituição Federal de 1988 e a Convenção 169 da OIT, onde Brasil é consignatário.

Letter from the Munduruku in Support of the Guarani-Kaiowa, Ka’apor, and all the Indigenous Warriors of Brazil.

We, Munduruku of the middle Tapajós River, with four villages in the municipality of Itaituba, Pará, are ourselves in the process of demarcating a territory that, despite being in an area of government initiatives, is land that has belonged to the Munduruku since even before the arrival of the “pariwat” (white) invaders of the fifteenth century, in the colonial era.
The entire indigenous population of Brazil knows that the Brazilian government has never respected our rights, even those that exist in the 1988 Federal Constitution. And no politician in congress defends the rights of indigenous peoples. A good politician would not vote for a law that does away with the rights of our people. She or he would revoke the Proposed Constitutional Amendment (PEC) 215, Ordinance 303 of the Attorney General’s Office, and other proposed laws, like the new mining code.
Moreover, the government’s large projects are trampling the rights of all indigenous peoples of Brazil. One of these initiatives is the construction of hydropower plants in Pará: Belo Monte, São Luiz do Tapajós, and four more along the Tapajós River’s course; one in Jatobá; one in Chacorão; another already in the final phase on the Teles Pires River (continuing onto the São Benedito River), one on the São Manoel River and three more to be built on the Jamanxim River. All of them will produce energy, but none will benefit any nearby cities, let alone the indigenous community.
The electricity will only benefit large companies, such as mining firms and multinationals. A dam will not generate power for small populations that cannot afford to pay for expensive energy. Then, with the dam built, other large projects of destruction will come: railroads and the waterway in the Tapajos River through which soybeans will flow to export abroad. For this waterway they plan to build seven ports along the Tapajós and also pave the BR-163 Highway.
Guarani-Kaiowa and Ka’apor relatives, and all other people who struggle like us: we Munduruku feel a lot of pain for you, for the size of the crime that government officials have committed with our recurring murders. For centuries the pariwat have been taking our lands; they plucked the life from our forest, which gives us food and even medicine for our family. They violate and rape our mother earth and leave her dishonored and disrespected.
With its projects, the government brings neither “progress” nor “development,” but brings only death. And the indigenous population has no right to challenge this type of violation. And when we manifest our outrage (which we are right to have and have rights to express), the government says that we “are obstructing” the process. We, indigenous people, are not obstructing anyone. This is because it is not us who are going to Brasilia to take the pariwat’s land and kill them. Nor have we gone there to disrespect their rights or to invade their territory. How can they accuse us of obstruction when it was they themselves who made the laws to be obeyed and enforced, and now they do not even respect what they themselves wrote? It wasn’t us. We demand that the government guarantee our constitutional rights, rights that flow from the 1988 charter and constituent assembly.
Relatives, let us fight together. All it takes is to observe how nature teaches us. We note that the taoca ants never hunt alone, but in swarms. They enter through the hollows of a trunk and chase away the most fearsome snakes, scorpions, centipedes, spiders, and even the jaguar and the great snake. In the trunks of trees they capture and destroy any species that they confront. These ants are dangerous.

Wasps are the same way. They never attack alone. Also the fierce red ants: first comes only one and close behind comes the pack ready to attack. Wild boars teach us all about the art of fighting or war. Jaguars, during rutting season, come together in groups to mate. Animal species teach us all of this. In every moment of our lives, we indigenous people, we must always pull together.

This is the moment for us to stand and fight together against our greatest enemy, which is the government. Let us form a grand alliance, and here our knowledge teaches us with the wisdom of the tortoise. He is slow, but he’s no fool. He walks little by little, but he’s never behind. He has fortitude and no one can defeat him. The tortoise always wins. He’s very intelligent and wise.

This is the only way: we must join forces. All the indigenous peoples of Brazil and throughout the world, from north to south and east to west. Let’s all let out the cry of “Enough!” Enough with the massacres, enough with the violation of our rights. Enough with the robbing of our lands.

So, if we mobilize our collective forces at the national and international levels, we can yet defeat our greatest enemy. We will not raise our hatchet to shed blood. We want to demonstrate that we are a people who struggle for the lives of all human beings who depend on nature, and not people of war.

All peoples should join this great battle for PEACE, for the love of nature, and for the love of all extant beings, which have different forms of life. Because we depend on all of them.

Sawe!
The Ipereg’ayu Movement and the Pariri Indigenous Association

Aldeia Sawre Muybu, July 15, 2015

tr. Jeremy M. Campbell 7/23/2015

IV Carta de Autodemarcación territorial Munduruku-

Nosotros, los Munduruku del Alto y Medio Tapajós, continuamos con la segunda etapa de la autodemarcación IPI WUYXI IBUYXIM IKUKAP – DAJE KAPAP EYPI.

Durante cinco días en la selva, hemos determinado seis puntos de la autodemarcación y, a la vez, hemos sido testigos de la destrucción llevada a cabo por los invasores y saqueadores de nuestras tierras: empresas madereras, extractores de palmito y ocupantes ilegales.

El segundo día, mientras seguíamos el rastro de los madereros, tuvimos dificultades para alimentarnos, ya que llevábamos dos días sin encontrar carne de caza. Sabemos que donde hay presencia  de ruido de tractores, de motosierras y movimiento de personas en el ramal, la caza se extingue porque los animales no toleran el olor humano. Mencionamos esto porque que hemos presenciado estos acontecimientos durante la autodemarcación.

Después de recorrer el camino de tierra de los madereros, vimos un sendero y un puente, que ellos utilizan para cargar madera y palmito de açaí. También vimos sus plantíos. Este sendero es una vía para la extracción de madera y troncos de palma. Ahora que estamos en el proceso de autodemarcación, nos hemos percatado de que esta área afectada se encuentra dentro de nuestro territorio.

Hemos observado la destrucción que esta gente está haciendo en los campos de açaí. Hemos observado la destrucción que esta gente está haciendo en los campos de açaí: comienzan los madereros creando el ramal y luego vienen los extractores de palmito para destruir los acaiçales. Hemos tratado de preservar el açaí para poder dárselo a nuestros nietos, pero ahora nos damos cuenta de que no queda casi nada en nuestra tierra. De esta tierra es de donde extraemos la fruta para dar su jugo a nuestros hijos, y ahora estamos presenciando su destrucción. Siempre decimos que el PARIWAT (hombre no indígena) no tiene ningún tipo de conciencia sobre esto.

La razón por la que estamos demarcando nuestra tierra es porque el PARIWAT está destruyendo los árboles y nosotros no lo hacemos. La intención del PARIWAT y del Gobierno Federal es destruir y la intención del indígena es preservar. ¿Por qué preservamos? Porque este patrimonio nos lo ha otorgado nuestro guerrero Karosakaybu. La tierra es nuestra madre, la que nos proporciona el sustento y supervivencia, y donde podemos vivir de acuerdo a nuestra propia cultura.

DAJE KAPAP EYPI es un lugar sagrado para todo el pueblo Munduruku, ya sea del Alto o Medio Tapajós. Tenemos que preservar nuestra naturaleza, nuestro río, nuestros animales y nuestros frutos, otorgados por Karosakaybu.

Estamos llevando a cabo la autodemarcación con el fin de demostrar que esta es nuestra tierra y para que los hombres blancos la respeten. Queremos tener autonomía sobre nuestra tierra, queremos que nosotros, los indígenas, seamos los fiscales y protectores de esta tierra, como siempre lo hemos sido.

Seguimos aquí en la autodemarcación y no sabemos con qué nos encontraremos más adelante…

Sawe!

11 de julio de 2015, aldea Munduruku Sawre Muybu, Medio Río Tapajós. Estado del Pará, Brasil.

Traducción por Anai Vera e Guillermo Justel, revisado por Emilia Villagra e Inés Jimenes

Coordinado por el “Comité Paulista de Solidaridad a Lucha Por el Tapajós”

Carta dos Munduruku em apoio aos Guerreiros Guarani Kaiowa, Guerreiros Ka’apor e a todos os guerreiros indígenas do país.

A carta do povo Ka’apor, povo do Maranhão, divulgada no começo do mês que além de solidarizar com a luta dos povos Guarani Kaiowa e Munduruku, convoca todos  a uma contínua união  em torno da luta contra os saqueadores de direitos de comunidades tradicionais, donos de terras e governantes deste País. Esta carta, foi respondida pelo Movimento Munduruku Ipereg’ayu, leia  a carta na íntegra:

(Carta do Ka’apor aos Guerreiros Guarani Kaiowá e Guerreiros Munduruku aqui.)

01

Carta dos Munduruku em apoio aos Guerreiros Guarani Kaiowa, Guerreiros Ka’apor e a todos os guerreiros indígenas do país.

Nós, Munduruku do médio tapajós, com quatro aldeias localizadas no município de Itaituba-PA e um novo território em processo de autodemarcação dentro da área de empreendimento do governo, onde o território é dos munduruku antes mesmo da chegada dos pariwat invasores do século XV, no tempo dos colonizadores.

Toda a população indígena do Brasil sabe que o governo brasileiro nunca respeitou o nosso direito, mesmo ele existindo na Constituição Federal de 1988. E nenhum político que ocupa o cargo no congresso defende o direito dos povos indígenas. Se fosse um bom politico, não votaria em aprovar a Lei que acaba com os direitos dos povos. Revogaria a PEC 215, a Portaria 303 da AGU e outros projetos de lei, como o novo código da mineração.

Além do mais, os grandes projetos do governo estão atropelando os direitos de todos os povos indígenas do Brasil. Um deles é a construção de Usinas Hidrelétricas no Pará: Belo Monte, São Luiz do Tapajós e mais 4 ao longo do leito do tapajós; uma no Jatobá; uma no Chacorão; outra já em fase final no rio Teles Pires e com continuidade em São Benedito, no rio São Manoel e mais três a serem construídas no rio Jamanxim. E todas elas produzirão energia, mas não beneficiarão nenhuma cidade mais próxima e muito menos a comunidade indígena.

A Energia virá apenas para favorecer as grandes empresas, como as mineradoras e as multinacionais. A hidrelétrica não gerará energia para as pequenas populações que não tem condição de pagar energia cara. Então, com a barragem construída virão mais outros grandes projetos de destruição: a ferrovia; a hidrovia no rio tapajós para escoar os grãos de soja, para exportar ao exterior. E com isso pretendem construir 7 portos no leito do tapajós e asfaltar a BR- 163.

Parentes Guarani Kaiowa, Ka’apor e todos os outros povos que lutam como nós: nós, munduruku, sentimos muitas dores por vocês, pelo tamanho crime que os governantes vêm cometendo, com nossos assassinatos recorrentes. Há séculos os pariwat vêm tomando as nossas terras, vem tirando a vida de nossa floresta que nos dá alimentos para nossa família e que nos dá até medicação. Violentam e estupram a nossa mãe Terra e a deixa desonrada, não a respeita.

O governo, com o seu projeto, não traz “progresso e nem desenvolvimento”, só traz morte. E a população indígena não tem direito de contestar esse tipo de violação. E quando nos manifestamos indignados, com toda razão e com direitos, o governo diz: “estão atrapalhando”. Nós, indígenas, não estamos atrapalhando ninguém. Porque não somos nós que estamos indo a Brasília para tomar as terras dos pariwat e matar. Nem vamos lá para desrespeitar os seus direitos e não invadimos os seus territórios. Como dizem que estamos atrapalhando se foram eles mesmos que fizeram essa tal de Lei para ser obedecida e cumprida e não estão nem respeitando o que eles mesmos escreveram? E não fomos nós. Nós exigimos que o governo garantisse o nosso direito constitucionalmente, na carta magna, na Assembleia constituinte.

Parentes, vamos lutar juntos. É só observar como a natureza nos ensina. Observamos que as formigas taoca nunca caçam sozinhas, mas em bando. Elas entram nas ocas e fazem fugir as mais temíveis cobras, escorpião, centopeia, aranhas, a onça, a grande cobra. Entram em oco de paus e capturam e destroem qualquer espécie que encontram pela frente. Essas formigas são perigosas.

Da mesma forma agem os maribondos. Eles nunca atacam sozinhos. E também as formigas vermelhas ferozes: primeiramente ela vem sozinha e logo em seguida vem o bando para atacar. Os porcos do mato nos ensinam tudo sobre a arte de lutar ou da guerra. As onças, no período do cio, juntam-se em bando para acasalar. As espécies animais nos ensinam tudo isso. Em todos os momentos de nossa vida, nós indígenas, devemos sempre estar juntos.

O momento é esse para lutarmos juntos, contra o nosso maior inimigo, que é o governo. Vamos formar uma grande aliança como o nosso saber nos ensina: a sabedoria do jabuti. Ele é lento, mas não é lerdo. Ele anda devagar, mas não fica para trás. Tem uma resistência e ninguém o derrota. Ele sempre vence. É muito inteligente e sábio.

A única forma é essa: Nós temos que unir nossas forças. Todos os povos indígenas do Brasil e do mundo, desde o norte até o sul, do o oriente ao ocidente. Vamos dar o grito de “basta”! Chega de nos massacrarem, de violarem nossos direitos. Chega de tomarem as nossas terras.

Então, se fizermos uma grande mobilização de nível nacional e internacional poderemos vencer o nosso maior inimigo. Nós não vamos levantar a nossa machadinha para derramar sangue. Queremos mostrar que somos um povo que luta pela vida de todos os seres humanos que dependem da natureza, e não da guerra.

Todos os povos devem se juntar para essa grande batalha pela PAZ, o amor pela natureza, o amor a vida. De todos os seres existentes, que possuem formas de vidas diferentes. Por que nós dependemos de todos eles.

Sawe!

Movimento Ipereg’ayu e Associação Indígena Pariri

Aldeia Sawre Muybu, 15 de julho de 2015

Carta dos Munduruku apoio kaapor e guarani kaiowa