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Manifiesto Munduruku

Versión en Español

 

El pueblo Munduruku no habla por hablar. Las palabras predicadas por nuestros chamanes, ancianos y ancianas, caciques, cacicas, guerreros, guerreras y líderes de hecho suceden. Nuestros cantos, hace muchos siglos, cuentan que somos un pueblo guerrero y que no hemos perdido ninguna batalla. Estas son palabras verdaderas, por esto continuamos cantando y haciendo nuestros rituales. Por otro lado, la palabra de los pariwati (blancos) es llena de dapxi (mentira). Es por ello que lo escriben todo, para intentar fortalecer la palabra y esconder las cosas malas que hacen detrás de los papeles que firman.

Para enseñar a los pariwati el significado de “ogukirik oceweju” (compromiso celebrado con el pueblo Munduruku), hicimos la audiencia y recibimos al Ministerio Publico con la ayuda de cada comunidad. Hicimos ver que aquí en la Mundurukania no es el dinero que manda. Tenemos tierra para sembrar, tenemos pescado, caza y el río para navegar. Si no tenemos combustible, remamos y llegaremos siempre donde queremos.

Ya explicamos antes, pero nos parece que los pariwati todavía no lo entendieron. Nuestros chamanes están escuchando los lamentos de los espíritus después de la destrucción de Karobixexe y Dekuka’a. Por esto somos obligados a visitarlos y a calmarlos.

Entonces, nosotros estamos alertando una vez más de que nos vamos hasta el río Teles Pires para cumplir nuestra palabra verdadera y visitaremos las urnas que descubrimos que las están rescatando, de acuerdo con lo que dicen nuestros chamanes y sabios. No es la CHTP que hace el “salvamento”, como ella dice en su oficio. Ella tocó en nuestro lugar sagrado y retiró las urnas de ahí en silencio, a escondidas, mintiendo una vez más. Pero nosotros descubrimos y vamos cobrar de la empresa este deber de llevarnos hasta allá, porque es ella la culpada por la tristeza de nuestros espíritus ancestrales.

El Ministerio Público está llevando nuestro aviso en la carta de audiencia. Pero ustedes ya se dieron cuenta que no somos “pueblos de papel”. Si necesario volveremos a la zona de obras de la Central Hidroeléctrica de São Manoel para cobrar de las empresas y del Gobierno todo lo que ellos han robado de nosotros.

 

Entre os dias 28 e 30 de setembro, cerca de 150 lideranças Munduruku estiveram reunidos em audiência na aldeia Missão Cururu. O movimento reivindica o cumprimento de acordos feitos com os diretores das empresas responsáveis pelas usinas São Manoel e Teles Pires e pelo Governo brasileiro na figura do Presidente da Funai.

Via Fórum Teles Pires

Entre os dias 28 e 30 de setembro, cerca de 150 lideranças Munduruku estiveram reunidos em audiência na aldeia Missão Cururu. O movimento reivindica o cumprimento de acordos feitos com os diretores das empresas responsáveis pelas usinas São Manoel e Teles Pires e pelo Governo brasileiro na figura do Presidente da Funai.

Veja o Vídeo!

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Carta das mulheres Munduruku em resposta à Funai e às empresas hidrelétricas do Teles Pires

 

Nós, mulheres, pajés, caciques, cacicas, guerreiros, guerreiras, cantores, cantoras, professores, lideranças Munduruku reunidos na aldeia Missão Cururu de 28 a 30 de setembro, estamos aqui para denunciar que mais uma vez as empresas e a FUNAI mentiram e não cumpriram o acordo que fizeram com o povo Munduruku na ocupação da UHE São Manoel.

Muitas mulheres e muitos antigos da luta, mesmo com muita dificuldade, vieram de suas aldeias para dialogar com as empresas e com a FUNAI e mostrar o sofrimento causado pelas barragens, que estão destruindo e deixando a gente com o rio sujo,matando os peixes .

Antes de construir essas hidrelétricas, eles nunca consultaram a gente. Nós fizemos o Protocolo de Consulta, mas o governo nunca cumpriu. Nem a FUNAI, que fala q é defensora dos direitos indígenas que vai cumprir o que está no Protocolo, mas nunca cumpriu. Eles não reconhecem o povo. Não só os indígenas, mas também os ribeirinhos. No mês de setembro, o Presidente Franklinberg Freitas descumpriu o Protocolo munduruku e indicou Olinaldo de Oliveira, conhecido como Fuzica, para assumir um cargo importante na Coordenação Regional do Tapajós. Nós não aceitamos essas indicações políticas e nem que ele passe por cima da nossa decisão, que era a readmissão do Ivanildo Saw Munduruku. Por isso ocupamos a FUNAI e Olinaldo pediu para ser exonerado.

Para ter diálogo com o povo Munduruku, eles têm que vir aqui nas nossas aldeias, comer com a gente, beber água do rio, ver de onde a gente tira nosso alimento. Se eles fizeram a barragem, eles também vão ter que beber da água do rio, com vazamento de óleo, peixe contaminado, animais morrendo. Vão ter que comer com a gente e sofrer o que a gente tá sofrendo.

Assinaram nossas reivindicações e prometeram que viriam na aldeia pedir desculpas pelas destruições dos lugares sagrados, mas não vieram e só enviaram suas palavras cheias de jurupari (espíritos do mal). Disseram que invadimos a UHE São Manoel com armas, mas não estamos pedindo o que é deles, estamos falando do que é nosso.  Quando ocupamos o canteiro não demorou um dia para eles aparecerem lá. Eles falam que aquilo é deles, mas aqui eles não vieram.

Eles não tiveram coragem de vir olhar na nossa cara dentro da nossa casa. Quando fazemos ocupação eles têm coragem de olhar pra cara da gente, porque estão armados. Nós nunca usamos arma para lutar contra eles, nós usamos nossa cultura, nossa fala. Os pariwat que usam armas para intimidar. Com suas armas assassinaram Adenilson Kirixi. Nós sempre usamos arco e flecha que é da nossa cultura e vamos continuar a usar.

Se a gente não falar nada, vão continuar igual aos cachorros. A gente fala, fala e eles nunca ouvem.

Mesmo sem as empresas, sem apoio de combustível e alimentação, nós fizemos a audiência e mostramos que não dependemos dos pariwat. Temos território, temos nosso peixe e mostramos que a gente está aqui, trabalhando e construindo nosso plano de vida. Mas o governo e as empresas só estão atrapalhando. Essa época é o momento de plantação das nossas roças, em que estamos conversando com as plantas para elas crescerem e o Governo está interferindo nisso tudo. Hoje é dificil as mulheres que estão no movimento ficar nas suas casas, cuidar dos filhos, das roças.

Foi o choro das nossas crianças que fez as mulheres chegarem até o canteiro de São Manoel junto com os homens. Somos mãe, a mãe da nossa terra, nós cuidamos dela. Somos a mãe peixe. Antigamente todas viramos peixe, todas as mulheres foram embora para o rio, por isso sabemos o que está acontecendo com nosso Idixidi sagrado.

Eles não cumpriram o acordo, mas isso não quer dizer que nós fomos derrotados.  Quanto mais o governo e as empresas negam nossos direitos, mais a gente vai reagir. O Governo e as empresas estão se declarando e nós vamos reagir.

Nas palavras de morte das empresas, eles não falam da destruição dos nossos locais sagrados. Dizem que não têm que pedir desculpas. Escondem que acabaram com Karobixexe e Dekuka’a. Os espiritos nao têm onde ficar, estão rodando, procurando seu lugar. Agora estamos sentindo  a cobrança dos espíritos. Tem gente adoecendo. Está tendo muito acidente, crianças afogadas, picada de cobra. Por isso que a gente foi pra ocupação.  Decidimos que temos que fazer a segunda visita às urnas no dia 7 de outubro 2017, isso foi o compromisso que fizemos durante a primeira visita (cf. pauta anexa). A empresa vai ter que pagar todos as despesas da viagem. Precisamos fazer esses rituais lá. Até as empresas virem até nós e pedirem desculpa, os espíritos não vao sossegar. Também continuamos exigindo que as empresas venham até o território Munduruku e façam audiência para pedir desculpas por terem destruído nossos locais sagrados e parem de negar essa violência que fizeram com a gente.

Esperamos uma resposta urgente da empresa e da FUNAI. E nós mulheres junto com os pajés, caciques, cantores, lideranças estamos prontos para voltar para a ocupação.

 

Sawé!

Somos feitos do Sagrado!

Esse local é sagrado porque aqui quando o mundo estava se formando Karosakaybu fez Karubixexe, Dekoká’a e Dajekapat.

Nós pajés vemos e ouvimos nossos antepassados se manifestando e cobrando de nós porque suas moradas não existem mais. As urnas devem ser devolvidas e não ficar com os pariwat. Nós vamos escolher um novo lugar para elas.

Nós Munduruku somos feitos do sagrado e vivemos do sagrado e nós pajés ajudamos o povo a seguir no seu caminho. Não temos problemas com os evangélicos ou com os pains sabemos que eles também conhecem o sagrado, respeitamos isso, eles também ajudam, mas não sabem o caminho certo, por isso nós trouxemos nosso povo aqui. Para verem de perto o mal que existe aonde antes era lugar de proteção e saúde.

Os pariwat também tem seus lugares sagrados e seus objetos sagrados, os livros, as bíblias com o que eles andam, antes de serem sagrados já foram outras coisas. O papel desses livros se não tiver verdades, não será sagrado.

É desse jeito que vemos nossas Karubixexe, Dekoká’a e Dajekapat e outros locais que nem são conhecidos dos pariwat. Precisamos trazer o equilíbrio das coisas vivas e dos espíritos no rio idixidi, que essas hidrelétricas destruíram.

Vimos as urnas e vamos lutar para que elas sejam mantidas seguras, elas não são para ficar no vidro como atração, vão voltar para os seus locais.A usina Teles Pires destruiu nosso local sagrado Karubixexe e tem que  pagar. A usina São Manuel destruiu Dekoka’a. Exigimos que seja feito um estudo antropológico sobre a destruição de Karubixexe e Dekoka’a. O estudo tem que ser financiado pelas usinas, nós povo Munduruku vamos escolher e indicar o antropólogo responsável pelo estudo. Este estudo é diferente do EIA/RIMA e do Estudo da Componente Indígena. Aguardaremos também o pedido de desculpas por terem destruídos nosso local sagrado, deverá ser feito na audiência da aldeia Missão Cururu, como apresentado na carta de reivindicação entregue na reunião do dia 19 de julho de 2017, no canteiro de obras da São Manoel.

A usina São Manoel destruiu nosso local sagrado Dekoka’a onde está a mãe dos animais. A Hidrelétrica Teles Pires destruiu a casa sagrada, Karubixexe, agora nós pajés vamos ter de encontrar um lugar aqui mesmo para devovlvermos as urnas e pedir desculpas aos espíritos por ter invadido a terra. Nós pajés confirmamos que foram roubados vários materiais sagrados e que ainda tem mais materiais no local onde foi destruído Karubixexe. Nós pajés fizemos um compromisso com os espíritos de fazer visita no nosso local sagrado, Karubixexe, que foi destruído na construção da usina Teles Pires. Como Karubixexe, a cada dois meses, para sempre. Nós temos que oferecer as bebidas tradicionais. Na nossa segunda visita iremos escolher o local onde será depositado as urnas. As usinas tem que pagar todas as nossas visitas ao nosso local sagrado.

No segundo encontro das mulheres, na aldeia Santa Cruz, em maio de 2017, as mulheres Munduruku decidiram fazer a visita às urnas, aguardamos por tanto tempo sem mostrar para ninguém, mas agora, a violação veio à público, todas sabem o que a usina Teles Pires e São Manoel fizeram, destruindo nossas locais sagrados. Na nossa visita às urnas, os espíritos, que estão vivos, ficaram felizes com a nossa visita, eles estavam chorando e com fome, e nós oferecemos as bebidas para eles e sentimos a presença deles, todos se reuniram para nos receber. Muitos espíritos estavam na nossa visita, o local onde eles nos receberam não era grande o bastante, por isso, durante a cerimônia, a parede rachou. A usina tem que tirar uma foto da rachadura e mandar para o Movimento Iperegayu.

Nós Munduruku estamos voltando para nossas aldeias, com a proteção dos espíritos dos nossos ancestrais, fomos ouvidos pela FUNAI e as empresas assumiram o compromisso com a nossa pauta. Vamos continuar nosso movimento. A FUNAI e a empresa podem esperar que se não cumprirem o compromisso firmado, voltaremos.

 

Sawe!!

Carta dos Ka’apor em apoio aos Munduruku

Nossos braços e nossas mãos aos parentes, guerreiros e guerreiras do Movimento Ipereg Ayu
Parentes Munduruku. Não pudemos esta ai, mas estamos com vocês aqui. Vocês mostraram esses dias que só com mobilização e organização a gente vence. Que os direitos nossos a gente não vende e nem negocia, a gente conquista em movimento e com luta com nossos parentes. A gente esta acompanhando os esforços, sacrifícios e luta de vocês para chegar até essas barragens que destroem os lugares sagrados em nome do dinheiro, do lucro dos ricos para gerar energia para os ricos. Só vocês conhecem o que os espíritos dos rios e da floresta tem a dizer pra vocês. Assim nós aqui. Só nós sabemos o que os espíritos da floresta, dos rios, da terra tem pra dizer pra nós. Os Pariwat, os Karai nunca vão saber, entender o sentido de nossa luta, de nossa vida. Eles podem atacar e querer derrubar a nossa organização e luta, mas não vão conseguir. Por isso parente, a gente unidos, tem que continuar se reunindo, se organizando e lutando do nosso jeito pelos nossos projetos de vida. Nosso futuro não está na cidade, nem venda de madeira e estacas, nem pastos, nem roças grandes, nem agronegócio, nem garimpo, nem barragem, nem projetos do governo. Nossa floresta, nossos rios, nossa terra são sagrados para nós. O mais importante agora é nossos Planos de Vida que vão guiar nossos passos para o bem viver nos nossos territórios.
Piranta ha johu Katu!
Conselho de Gestão Ka’apor
Guerreiros da Floresta Ka’apor

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Por que nós munduruku estamos aqui?

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Por que nós munduruku estamos aqui?

Nos dias 08 a 10 de maio de 2017 nós mulheres, pajés, caciques e lideranças estivemos junto com nossas crianças, reunidos na aldeia Santa Cruz realizando nosso II encontro de mulheres Aya Cayu waydip pe. Nesse encontro discutimos muitos problemas. A maioria desses problemas pioraram com a construção da Hidrelétrica do Teles Pires e de São Manuel.
Nossos locais sagrados Parabixexe e Dekuka’a foram violados e destruídos e nosso protocolo de Consulta foi desrespeitado. Depois de ouvirmos as mulheres foi decidido que estaríamos aqui por dois motivos.
O Primeiro é devolver as urnas roubadas pela hidrelétrica para a terra e que nenhum pariwat tenha acesso a ela. Essa devolução das urnas tem de ser acompanhada pelos pajés e com um pedido de desculpas da hidrelétrica por ter desrespeitado nossos locais sagrados.
Segundo que a hidrelétrica respeite nossos direitos e crie um Fundo com recursos para serem aplicados por nós munduruku:

  • em nossas escolas e na nossa educação,
  • nas nossas roças,
  • na proteção e vigilância das nossas terras,
  • no apoio aos nossos outros parentes e sem interferência das hidrelétricas,
  • na proteção dos nossos locais sagrados
  • na preservação do nosso conhecimento e da nossa história

Sawe!

Por que nós munduruku estamos aqui

Em carta à FUNAI, Mundurukus afirmam seu repúdio

No dia 11 de junho de 2017, o povo Munduruku reunido na aldeia Sawre Muybu, no médio Tapajós, escreveram uma  carta à Fundação Nacional do Índio – FUNAI manifestando seu repúdio ao retorno do servidor Raulien Queiroz de Oliveira à Coordenação Regional do Tapajós.

Os indígenas, entre outras denúncias, afirmam que Raulien nos seus dois mandatos como prefeito do município de Jacareacanga, território onde se concentra a maior parte das aldeias da etnia Munduruku, repetiu várias irregularidades a este povo, como a demissão arbitrária de 70 professores indígenas, em 2014. O servidor também foi presidente do Consórcio Tapajós, interessado na construção de hidrelétricas que alagariam Terras Indígenas e trariam impactos socioambientais irreversíveis às comunidades indígenas e ribeirinhas da região.

Leia a Carta na integra!

À PRESIDÊNCIA DA FUNAI
c.c: Ministério Público Federal

Nós, povo Munduruku, em reunião na aldeia Sawre Muybu, no dia 11 de junho de 2017, manifestamos nosso total repúdio ao retorno do servidor Raulien Queiroz de Oliveira à Coordenação Regional do Tapajós.
O servidor sempre maltratou os indígenas e durante os oito anos de mandato (2009-2016) como prefeito de Jacareacanga, sempre discriminou os Munduruku e ainda foi presidente do Consórcio Tapajós, interessado na construção de hidrelétricas que alagariam Terras Indígenas e trariam impactos socioambientais irreversíveis às comunidades indígenas e ribeirinhas da região.
Durante sua gestão, adotou diversas medidas políticas e administrativas anti-indígenas, como a exoneração arbitrária de 70 professores indígenas, em março de 2014, decisão revertida na Justiça, por meio de ação do Ministério Público Federal. Usou ainda violência física e moral contra o Movimento Munduruku Ipereg Ayu, chegando ao absurdo de coordenar um ato em que funcionários e servidores de sua gestão lançaram rojões contra os indígenas para reprimir suas manifestações em defesa de seus direitos.
Houve também interferência direta na organização social do povo Munduruku, quando inseriu na Associação Pusuru indígenas Munduruku ligados à sua gestão, favoráveis aos interesses da Prefeitura e contrários ao movimento de resistência.
É inaceitável que alguém com essa postura continue a trabalhar com o povo o munduruku ou com qualquer povo indígena. Sua atuação, seja como servidor da FUNAI, seja como prefeito, é incompatível com a missão do órgão indigenista de proteger os direitos dos povos indígenas.
Não aceitamos a presença do servidor supracitado na CR Tapajós, exigimos sua imediata exoneração pela presidência da FUNAI e a reestruturação da CR para que não haja prejuízo na realização das atividades fim da entidade. Caso não sejamos atendidos, resolveremos a situação de nossas próprias formas, com o devido acompanhamento do MPF.

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Um pequeno relato “na beira da história”.

Mundurukânia, Na Beira da História from Familia Bastos Produções on Vimeo.

Era meados de outubro de 2014. Eu voltava depois de duras duas semanas de Daje Kapap Eypi (conhecida pelos não indígenas como Sawré Muybu). Levava comigo uma lista de demandas e uma carta feita pelos Munduruku pedindo a demarcação da Terra Indígena e a incumbência de publicá-la “para que o Brasil e o mundo veja”, palavras do cacique Juarez Saw um pouco antes que eu pegasse a voadeira.

Estava hospedada em um pequeno hotel em Itaituba, um pouco agoniada, quando bate à porta um cara com a voz estridente. O Miguel me falou da sua proposta de gravar um documentário sobre arqueologia. Expliquei a tensão que tomava conta do cenário, do encontro com madeireiros e dos perrengues para seguir com a ação. Depois de nada mais de 10 minutos de conversa pontuei que talvez não fosse o melhor momento para ele ir a Daje Kapap Eypi.

Pensei: “Quê que esse maluco quer falar sobre arqueologia.  A autodemarção pegando fogo e vem esse justo agora?! Era só o que faltava”.

Insistente, o Miguel não ligou para o que eu disse e seguiu sua empreitada de ir a Daje Kapap. Ainda bem. Nos encontramos algumas horas depois e ao largo dos dias ele foi falando sobre seus antigos trabalhos e mostrando no cotidiano cada vez mais comprometimento com os movimentos sociais. Não só gravou, como ajudou a criar este blog, editou vídeos que não eram parte do seu documentário e colaborou com gps, corte de aŕvores, transporte e tudo que era necessário para seguir com a autodemarcação.

A presença do Miguel foi importante em vários momentos e isso foi percebido por todas nós que tivemos contato com ele, principalmente pelos Munduruku, que viram nele não somente um cara que estava gravando um vídeo.

Um dia, a motoserra utilizada para abrir os caminhos se quebou. Por sua experiência na colônia na Catalunha onde vive, Calafou, ele a ajeitou e ganhou a confiança do seu Juarez que dizia “esse daí não vai mais não. Ele não é só jornalista, mas é lenhador também. Pode mandar a câmera embora e ele fica para ajeitar a motosserra!”.

Pouco a pouco fui percebendo a importância redobrada de falar sobre arqueologia em Sawré Muybu. Por aquelas terras ameaçadas com a construção de hidrelétricas do Tapajós, terras que  o governo brasileiro não demarca, que grileiros dizem ter posses… Por essas terras tão disputadas, os Munduruku já pisavam há milhares de anos e a arqueologia pode ajudar a provar isso.

Trabalhamos juntos no documentário, o ajudei com entrevistas, gravações e a amizade que construimos foi um marco na minha vida.

Não costumo e nunca assinei os textos que escrevi neste blog, mas achei necessário e fundamental dar este relato pessoal. Um, pelo comprometimento do Miguel com os Munduruku e com esse blog. Dois, pelo lindo trabalho que fizemos juntos.

Compartilho com vocês, leitores, com muito orgulho, o documentário “Mundurukania, na beira da história”. Compartilhem e façam visível a luta dos munduruku pela demarcação da terra indígena Daje Kapap Eypi.

Larissa Saud

 

 

 

PEC 215 NÃO! O GOVERNO NÃO VAI ROUBAR NOSSA TERRA, AUTODEMARCAÇÃO CONTINUA!

Nós povo Munduruku, reunimos dias 09 a 11 de novembro na aldeia Muiuçuzao, em Jacareacanga. Estiveram presentes caciques, lideranças, guerreiros, guerreiras, pajés e sábios para discutir a PEC 215. Essa lei que vai matar nós em nossa casa onde vivemos e educamos nossos filhos. Discutimos também o plano de resistência dos Munduruku para garantir a nossa luta e as futuras gerações.

Estamos fazendo a autodemarcação para garantir a nossa mãe terra preservada e protegida. Nosso território sagrado Daje Kapap Eipi aprendemos com nossos sábios e nosso Deus Karosakaybu a cuidar e a manter vivo coletivamente.

Alertamos todos os caciques e as lideranças a se manifestarem contra os inimigos anti indígenas que estão a nossa volta como sucuri apertando, nos mantando, nos enforcando, ao redor da nossa casa onde nós vivemos com nossas tradições.

Não aceitamos a emenda constitucional PEC 215 que vai matar os povos indígenas. Queremos garantir nossos direitos e nosso território. Não negociamos a nossa mãe terra!

Contamos com todos os povos indígenas e aliados nessa luta contra PEC 215 e outros projetos do governo que viola nossos direitos e quer matar nós.

Somos os povos originários desse país, o Brasil não existe sem os povos indígenas. Somos tesouro desse país e vamos enfrentar essa ameaça com nossa voz e autonomia.

Bora pra luta!!!

Bora compartilhar!!!

Sawe!!!

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A carta do Repúdio do Povo Munduruku contra PEC-215.

Mundurukania, 30 de outubro de 2015

Nós povo Munduruku,  repudiamos sobre a violência da discriminalidade da PEC 215. viemos a informar e dizer que não  aceitarmos  a modificações da nossa Lei que nos garantem na constituição de 1988,  a preservação e a nossa sobrevivência nativa, não negociamos nosso direito,nossa mãe terra  Ela é pra garantir as futuras gerações do nosso povo. A floresta é de onde a gente sobrevive. Ela cuida, mantém e dá alimento pra nós. Ela sempre dá seu fruto para novos gerações que são nossos pequenos  filhos.

Continuar lendo A carta do Repúdio do Povo Munduruku contra PEC-215.